Uma história de resiliência e de superação que emociona quem a escuta. Assim é a trajetória do engenheiro Ricardo Trajano, único passageiro sobrevivente do acidente aéreo envolvendo o voo 820 do Boeing 707 da Varig, ocorrido no dia 11 de julho de 1973 em Paris (FRA). Ele esteve no Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE-PA) nesta segunda-feira, 16, para relatar um pouco do episódio trágico vivenciado por ele e seus familiares e que ainda reflete de modo significativo na sua vida.
Servidores de todas as áreas do Tribunal prestigiaram a palestra, que contou com a presença da Conselheira Presidente Rosa Egídia Crispino C. Lopes e do Conselheiro Luís Cunha. A Secretaria de Gestão de Pessoas (SEGP) e a Escola de Contas Alberto Veloso (Ecav) foram responsáveis pela oferta da capacitação.
Trajano contou que na época do acidente tinha apenas 21 anos e seu sonho era conhecer Londres. Mas a viagem acabou mal, vitimando fatalmente 123 pessoas após um incêndio repentino na aeronave. Sua mãe, mesmo diante das más notícias, era a única que acreditava em sua sobrevivência. Ricardo ficou internado por dois meses em um hospital da capital francesa, recebendo o apoio incondicional de seus pais, que escreviam mensagens de otimismo diariamente para o filho que inspirava muitos cuidados, cartas de pessoas que nem o conheciam pessoalmente e fitas cassetes com músicas que gostava.
“Comecei a pensar positivamente ao longo de todo o meu tratamento que levou bastante tempo”, contou Ricardo, que foi acometido por graves queimaduras pelo corpo, além de edema pulmonar e febre constante. “Dentro daquele ambiente pesado procurava extrair coisas positivas, aparentemente banais. Para mim onde eu estava eram as frases carregadas de esperança e de motivação que os meus pais escreviam. Eram o meu alimento de vida”, lembrou.
O engenheiro acredita que o mais importante são as pessoas que nos emocionam e que permanecem em nós. Ele revelou que aprendeu muito com o médico francês responsável por sua recuperação, alguém que soube realmente trabalhar em equipe. “Ninguém faz nada sozinho. Para se trabalhar em conjunto é preciso que haja sintonia, sinergia, segurança e simpatia. O verdadeiro líder forma outros líderes. Precisa ter ética, caráter, saber ouvir e ter sensibilidade”, acredita.
Meses mais tarde, Ricardo voltou a voar de avião a fim de concluir a viagem. Superou qualquer medo que tivesse, provando que sempre se pode recomeçar. “Nossas vidas podem mudar a qualquer momento. Nunca acreditamos que possa acontecer algo conosco, mas nunca se dê por vencido. Quando se pensa que tudo acabou, é o momento que tudo pode recomeçar”, aconselhou.
O sobrevivente recomenda o otimismo, a empatia e a autoconfiança, além de ousadia para se empreender ideias. Ele continua achando a aviação algo fascinante, mesmo depois da experiência de quase morte dentro de um avião. Ricardo não acredita em destino traçado, mas sim que cada um pode definir suas vidas por meio de escolhas. “Na vida se passa por momentos bons e ruins. A única constante é a mudança. Tudo é muito breve, efêmero. É preciso fazer a diferença na vida das pessoas”, finalizou.
Trajano deverá lançar em breve um livro de sua autoria contando o acidente que transformou o seu modo de viver.